O maior streamer de World of Warcraft na Twitch, Asmongold, comentou a inquietação dos EUA e do mundo e falou um pouco sobre como fazer sua parte na Twitch para combater o racismo.
A morte de George Floyd pelas mãos de policiais de Minneapolis foi o estopim para que protestos irrompessem nos EUA e no mundo. Isso fez com que muitos criadores de conteúdo da Twitch sentissem necessidade de falar sobre racismo estrutural e violência policial.
Asmongold é conhecido por não esconder suas opiniões e comentar questões sociais em suas streams. No caso específico do racismo, Asmongold, um streamer branco, não tem o mesmo tipo de experiência pessoal que figuras públicas negras podem ter.
Na Twitch, porém, a experiência de Asmongold com uma audiência enorme lhe dá um conhecimento que pode ser útil àqueles que quiserem fazer diferença e combater racismo online.
“Acreditei que fosse a coisa certa a fazer”, disse ele. “É o que eu tinha que fazer.”
Entre os principais assuntos que Asmon abordou nos 25 minutos de vídeo, estavam a moderação do bate-papo durante eventos relacionados a empresas, o uso de emotes racializados e as formas que a Twitch pode trabalhar diretamente com os streamers.
Streams de revelação de jogos
Todo ano, as revelações de novos jogos e consoles em streams trazem algumas das maiores e mais diversas audiências da Twitch. Mas, diferentemente das streams de personalidades comuns, algumas desenvolvedoras e empresas em geral não têm muita experiência com a moderação do bate-papo.
Asmongold disse que há algumas maneiras de combater comentários racistas em streams de desenvolvedores na Twitch. Primeiramente, Asmongold sugere, as próprias empresas poderiam investir mais em moderação agressiva para eventos de revelação de jogos.
O possível problema de usar moderação mais agressiva em um bate-papo é que exige muito esforço e, mesmo com a moderação acompanhando atentamente, ainda pode ser difícil impedir comentários maldosos.
Com centenas de milhares de pessoas vendo uma stream, o bate-papo é tão rápido que é quase impossível moderar tudo. Mas acabar com esse tipo de comentário negativo é crucial se as desenvolvedoras quiserem garantir que eles não façam com que seus jogos adquiram má fama.
“Faz com que o jogo pareça um pouquinho mais merda”, explica ele. “Faz com que a experiência seja pior.”
A solução pessoal de Asmongold para o problema que as desenvolvedoras encaram é fazer com que, em alguns grandes eventos, seja permitido usar apenas emotes no bate-papo. Para impedir que comentários racistas e maldosos ou ofensivos de forma geral existam, usar apenas emotes é uma solução que ainda permite que os espectadores se sintam parte do evento.
Emotes com conotações racistas
Alguns emotes específicos da Twitch, como TriHard, têm um longo histórico de uso com conotações racistas ou machistas por parte dos espectadores. Asmongold não acredita que nenhum dos emotes da Twitch seja propositalmente racista, mas chega um momento em que a intenção do usuário pode estragar o sentido do emote.
Outros emotes de pessoas racializadas, Como Anele e MingLee, também costumam ser usados de forma discriminatória, e Asmongold diz que parte do motivo é que os emotes não têm emoções.
“Os emotes de Anele e MingLee não mostram nenhuma emoção direta”, disse ele. “Emotes são usados para expressar uma emoção ou ideia e, no caso de ausência de emoções e ideias, sobra apenas, literalmente, a cara do emote. Então o emote se torna uma representação ou manifestação daquela raça.”
Quando as pessoas usam emotes com intenções racistas, costuma ser por algo que foi dito na stream que inspirou esse tipo de resposta. Apesar de haver vários emotes que representam pessoas de várias raças e etnias na Twitch, apenas alguns costumam ser usados negativamente.
“Emotes da Twitch são meio que um Marco Polo, onde você diz A e eles respondem B”, explicou ele. “Então, quando você remove B, você diz A e eles não podem responder B. Há poucas pessoas que passariam a responder C, e menos ainda que passariam a responder D.”
As possíveis soluções de Asmongold seriam substituir alguns dos emotes usados com as intenções erradas ou fazer uma espécie de rotação de emotes.
No canal de Asmongold, ele mesmo baniu o emote de TriHard porque viu que era quase exclusivamente usado com propósitos racistas e, desde então, o número de pessoas que fazem comentários discriminatórios com emotes foi drasticamente reduzido.
“No meu caso, o número de pessoas que usavam emotes de pessoas pretas com conotações racistas ou de estereótipos racistas foi reduzido em uns 99%”, explicou. “Antes, quando ele estava disponível, era usado constantemente, sempre que eu falasse qualquer coisa. Agora, deve ter uma pessoa que fala algo assim em um dia.”
Trabalhar com os streamers
O último tópico abordado por Asmongold sobre a luta pelo fim do racismo na Twitch é que precisa partir da própria Twitch.
Ele disse que muitas vezes a Twitch se comunica com os streamers através de um sistema disciplinar rígido, mas a iniciativa de cooperar com os streamers que possam estar enfrentando racismo pode ir longe. Se houver um número desproporcional de contas cujo bate-papo costuma ser denunciado por racismo, Asmongold acredita que a Twitch deva ficar atenta aos streamers e conversar com eles sobre estratégias para impedir comentários racistas.
“A Twitch precisa mudar a abordagem”, sugeriu ele. “Não punir os streamers, mas trabalhar com eles para melhorar a plataforma. A melhor forma de fazer isso é ensinar os streamers.”
Asmongold acrescentou que, para alguns streamers, não é tão óbvio assim identificar possíveis ofensas racistas. Ao aconselhar seus criadores de conteúdo e trabalhar junto com eles, a plataforma pode ajudá-los, individualmente, a deixar o bate-papo mais tranquilo.
“Se a Twitch quiser combater o racismo em sua plataforma, vai ter que se esforçar”, disse ele. “Não dá pra simplesmente jogar a responsabilidade para os streamers e dizer que é problema deles e eles são os responsáveis pelo comportamento.”
No fim das contas, racismo na Twitch é um assunto complicado que não pode ser resolvido por uma pessoa em um vídeo de 30 minutos. Mas as últimas palavras que Asmongold falou no vídeo foram direcionadas aos streamers que podem estar se sentindo frustrados com os espectadores.
“É muito fácil excluir os racistas”, disse ele. “Não ajuda. Pode ser bom, mas não ajuda… alienar e excluir as pessoas só faz com que elas se radicalizem ainda mais em vez de aprender. Não acho que banir alguém da sua stream vai fazer com que sejam menos racistas. Meu objetivo é sempre melhorar as coisas, não fazer o que eu acho que é justiça.”
Artigo publicado originalmente em inglês por Max Miceli no Dot Esports no dia 06 de junho.